sábado, 20 de outubro de 2012
0 DESINFECÇÃO E HIGIENE NOS CRIADOUROS
Alfonso Babra Garcia - Espanha
Revista Pássaros Nº 64
Arquivo Editado em 31 Jan 2011 – Criadouro Kakapo
Introdução
A ação germicida, como fato empírico, figura entre os conhecimentos mais remotos dos homem, muitos antes de conhecer-se a natureza bacteriana ou viral de certas doenças.
Como exemplos desta ação, poderíamos citar: o conhecimento de que o fogo destruía "as causas do mal", o valor da água fervida para a lavagem das feridas ou a aplicação de determinadas técnicas para a conservação de alimentos - salames, defumados, acidificações etc.
Durante a primeira metade do século XIX, introduziram-se diferentes substâncias sulfuradas, iodadas e cloradas, utilizando-as não somente para o tratamento de determinadas afecções animais ou vegetais, mas como valiosos anti-sépticos para cura de feridas e para a prevenção e infecções em atos médicos ou em cirurgia.
Resultou de grande valor a demonstração de Semmelweis [1847], ao assinalar que a simples lavagem e desinfecção das mãos dos médicos e veterinários com cloro, reduzia radicalmente as mortes habituais nos partos.
Na segunda metade do século XIX, a lista de anti-sépticos e desinfetantes foi enriquecida com a introdução de vários sais de metais pesados, álcoois, fenóis e compostos iodados, cujas atividades microbicidas e esporicidas puderam fazer-se mais evidentes ao coincidir com a era das grandes descobertas bacteriológicas.
O ato de desinfecção, - destruição ou eliminação de todas formas vivas infecciosas - tal como entendemos hoje em dia, parte das idéias de Koning e Paul, os quais comprovaram que os desinfetantes só podiam ser comparados sob condições controladas, tempo de contato entre germes e desinfetantes, meio térmico, substrato e possível interferências.
Ação dos desinfetantes
Poderíamos definir um desinfetante como uma "substância ou composto que impede a infecção", ou dito de outra forma mais prática: "é um produto químico capaz de destruir germes e que se emprega para sanear locais onde temos as nossas aves".
Dentro desta definição, cabem unicamente produtos que apresentam ação letal-germicida ou bactericida sobre os microorganismo, se bem que produzam ações sobre diversas formas mais resistentes: esporos, vírus, fungos, etc ...
A desinfecção, embora cubra um amplo campo de atividade, procura, antes de tudo, a erradicação dos germes diretamente patógenos [responsáveis pela produção de doenças!.
Do ponto de vista teórico, um desinfecção perfeita, com 100% de eficácia em uma instalação ornitológica, deveria ser motivo de erradicação de uma enfermidade ligada permanentemente ao aviário, coisa que, infelizmente sabemos, é muito difícil de se conseguir na prática.
A ação de um bom desinfetante, que possua atividade letal para um microorganismo, essencialmente é a de uma "substância agressora que atua contra este, produzindo-lhe danos físicos, químicos ou enzimáticos".
Geralmente cada germe apresenta um lado no qual os desinfetantes atuam como bacteriostáticos, passado a bactericidas a partir de certo nível.
Os desinfetantes ou germicidas são substâncias muito heterogêneas, atuando em condições muitos diversas como também são os microorganismos sobre os quais podem atuar, que diferem entre si tanto em seu fisiologismo, como em seus hábitos de vida.
A ação dos germicidas, a nível das bactérias, pode se produzir a nível superficial ou de "membrana" e a nível profundo ou "protoplasmático". HAYDEN assinalou que o fenol atuava interferindo em várias cadeias metabólicas, a sua destruição ao produzir uma alteração física que afetava a sua permeabilidade celular.
Todos os ornitólogos amadores conhecem a patogenia de E. coli em nossos ninhos.
Esta considerações nos levam a considerar a importância da técnica da desinfecção dos aviários, baseando-se nos seguintes pontos:
1 - Cada desinfetante atua de uma forma determinada, em uma concentração definida e com margens de eficácia distintas para cada caso. São dadas grandes variações de cada produto desinfetante porquanto podem produzir-se inativações pela presença de substâncias antagônicas, tais como: matéria orgânica, sais minerais, ácidos, etc ... Por isso é imprescindível, antes de uma desinfecção ou desinsetação, efetuar uma limpeza mecânica a fundo no aviário.
2 - Dentro de cada grupo de desinfetantes podemos ter substâncias com maior ou menor atividade, em função da sua própria estrutura molecular e do seu comportamento ante o germe que se pretende destruir.
3 - O tipo de superfície a desinfetar condiciona a seleção do produto e sua dosificação em função de sua possível toxicidade, causticidade e persistência. A madeira e o cimento podem tolerar produtos que resultariam inadequados para gaiolas metálicas.
Comparação entre diferentes desinfetantes
Revisadas as bases de uso aplicação de cada desinfetante, e conhecida a diversidade de mecanismos de ação, compreenderemos que existe uma evidente dificuldade na eleição dos desinfetantes, máxima se a desinfecção se efetua existindo aves na gaiolas ou viveiros. Recomendamos que em todo tipo de desinfecção geral, se retirem as aves dos criadouros, pelo menos durante 8 horas.
Para comparar desinfetantes é preciso ter em conta as aplicações de cada um deles e suas margens de atividade.
A valorização dos desinfetantes se baseia em ensaios efetuados em laboratório, que consistem em se colocar o germe que se quer destruir, ante uma dose de antisséptico e durante um tempo pré-estabelecido.
Um método muito prático de avaliação consiste em averiguar "a mínima concentração" de um desinfetante que seja capaz de inativar um germe de "prova" em 10 minutos, o que se efetua através do chamado "teste de arratre".
As provas de laboratório são indispensáveis para o criador talvez o sejam tanto práticas, que a ofereçam "in situ" provas de confiabilidade, não toxicidade e de verdadeira ação desinfetante.
Para este tipo de provas prévias, torna-se indispensável fazer uma amostra de diversos pontos do aviário que se pretende sanear. As provas sobre as gaiolas, voadeiras, paredes e chão do aviário dependem das seguintes variáveis:
1 - grau de umidade do aviário
2 - homogeneidade das paredes e piso
3 - qualidade da limpeza prévia
4 - antecedentes patológicos, que nos levam a uma desinfecção a "fundo".
De acordo com a maioria de autores especialistas, concordamos que os resultados obtidos em um determinado aviário, "não podem ser, em absoluto, extrapolados a outros", nem sequer naqueles em que existam aves da mesma variedade.
Do ponto de vista de confiabilidade, em todo momento podem apresentar-se diversas objeções, pois assim como ocorre na ornitologia amadora, se trabalha com amostras reduzidas.
Praticamente e em plano de divulgação, pensamos que onde se criam ou se mantenham lotes de aves de pequeno porte (exóticos, canários, periquitos, silvestres da fauna européia etc.), os desinfetantes de eleição são os derivados dos sais de AMÔNIO QUATERNÁRIO, que com diferentes marcas se oferecem no mercado, sem descartar os derivados iodados.
Resumo
Os resultados que temos obtido em numerosas provas efetuadas nos confirmam que os máximos níveis de eficácia se alcançam quando o aviário tem sido submetido previamente e com pontualidade a uma limpeza em profundidade, o que nos faz pensar que a HIGIENE é o primeiro passo da DESINFECÇÃO. Com ela se reduz drasticamente a incidência de determinadas afecções patológicas de origem bacteriana, fúngica ou viral, ligadas ou condicionadas à contaminação por insetos ou outros vetores.
Este é, pois, o procedimento mais apropriado e estendido:
a - Limpar periodicamente o aviário e, por sua vez, desinfetá-lo.
b - Utilizar unicamente desinfetantes de eficácia reconhecida.
c - Procurar desinfetantes estáveis e não voláteis.
d - Aplicar as doses adequadas de desinfetante "in situ", segundo as medidas do local ou aviário.
e - Ter em conta as épocas de alta taxa de umidade e calor, para reiterar as medidas de higiene, DESINFECÇÃO e DESINSETAÇÃO, com isso se reduzirão notavelmente, a incidência de enfermidades e ectoparasitações em nossos aviários e voadeiras.
Agradecimentos ao site Criadouro Kakapo.
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